sábado, 24 de dezembro de 2011

Alma presa

Em meu corpo jovem carrego
A sina do cientista mais antigo.
Que leu à de luz vela pelo ego:
Garantiu a cegueira de castigo!


Carrego também o reumatismo
Da velha que na sua cama reside
E viver nesse eterno bizarrismo
Que quem acorda, e sobrevive.


Vivo jovem, numa alma velha
Numa mente de tantas décadas
Que não consigo nem contar!


E  de tanto desespero s'esgoela
A alma presa, sábia e esquelética,
E que não consegue se acomodar!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Cientista na Janela

Dela, toda cidade sentia saudade
Recostada na janela, ela poderia
Com toda peculiar assanhosidade
Evoluir na ciência e na tecnologia.


Recorrendo ao café e ao fumo
Fazia tempos que ninguém a via
Ela estava recorrendo ao insumo
Que era fruto de grande antagonia.


A cientista que sozinha, na janela
Evoluia, pensava, bebia para criar
Perdia dias num grand'etéreo amor!


Como viver sem a perspicaz olhadela?
Por que iria ela de todos nós abdicar
Pra viver um egoísta projeto de dor?

sábado, 8 de outubro de 2011

Câncer

Do início, pontualmente errante
Levou anos a fio pra se mostrar!
Quando veio, a maldita mutante,
resolveu toda minha vida revirar!

E foi invadindo, pouco a pouco
Pouco os médicos podiam fazer(...)
Preferia morrer, assim, tarouco 
Ao cada dia minha vida perfazer!  

O frasco vídrio que me medicavam
Para tentar minha a vida prolongar,
só me deixava nessa Terra à sofrer!

E meu sofrimento eles postergavam
E à Santa Morte decidi me entregar
Dei-lhe à mão, pra passagem fazer!


J. Breuer, S. Freud e a Histérica.

Cada hora, um dia, o encontro
Em que tu só encontras o amor,
eu diagnostico esse teu tolontro
originária da paterna fétida dor.

Não projetes em mim, ou nele
Esse bebê que imaginas gerar.
Geras em tua mente esse filete
De células que ficas a elucidar!

Vamos cura-te, mulher histérica
Desse imaginar, e tremer e chorar
Pondo-te, forçada, calma a dormir!

Tua mente carrega a ciência médica
E a psicanálise que vai revolucionar,
e muitas outras loucuras irá reprimir!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Hora de arrumar a casa!

Preciso arrumar minhas gavetas
E deixar tudo muito organizado!
Jogar fora esse tanto de tretas,
Mantendo esse todo alfabetado!


É hora de arrumar esse armário
Colocar cada qual em seu lugar
Livrar-me do que é retardatário,
Para novamente, conseguir amar!


É hora de colocar as últimas peças
Desse absurdamente e estrondoso
Quebra-cabeças que me desafiaste!


Coloco-as no centro para tu meças
Para que abras teu sorriso luminoso
E tomar pra ti a mulher que amaste!

sábado, 24 de setembro de 2011

Curando com palavras...

Leito por leito, sigo anotando
Pesares, aflições e tanta dor.
Assim a missão vou realizando
Desafogando cada lamentador.

Não é menos o fato de anotar
E fazer de dor poesia e prosa
Faz parte da cura o desapegar
Desse tanto da Terra extremosa


Enquanto energizam cada alma
E orientam, cuidadores da luz
Ponho-me somente a anotar(...)


Enquanto eles fornecem a calma
Eu os retiro da tão dolorida cruz
E por fim, estabelecemos, o curar.

domingo, 11 de setembro de 2011

Clonazepan

Vício coletivo? Sim, inquestionável!
Mas não seria a ânsia um mal geral?
E vem um sacrossanto elixir de alívio
Permitir às pessoas ao geral convívio!

E muitos acham incoerente, ilógico
Que eu faça à essas gotas uma ode:
Dependo eu, em um litígio hipnótico 
Para que minha alma se acomode!

São Gotas Santas, Gotas de Paz,
que me exilam dessa ânsia fulgaz
E saram a dor de acordado-ser!


Por fim, ao piedoso sono pertencer
E mesmo que farmacologicamente
As santas, acomodam minha mente!

domingo, 4 de setembro de 2011

O velho e a jovem.


Sente a dor fatal, angina de Prinzmetal!
É a dor do completo desaproveitamento
Da alma jovem cedendo contentamento
À uma alma velha, ranzinza, intelectual.


A bela menina, com seus poucos anos
Aguenta tanto, tanta sede de aprender!
Fez pra ele tantos e mais uns encantos
E esperava, pois, ao seu lado envelhecer.


Mas ele nada esperava, ele nunca o fazia,
Sabia que  a qualquer hora poderia morrer
A deixava, então, nesse tanto de esperar!



E aquela alma, que já um tanto vazia,
Decantou-a, calma e friamente a sofrer
E ela queria, apenas, aprender a amar!

sábado, 3 de setembro de 2011

Versos à Lucas de Castro Lisboa

Ao poeta que não pedi opinião!


Eu tenho direito a tréplica
Mas das regras, abdiquei!
Eu não ligo para a métrica
Mas os sentidos, resguardei (...)


Pouco me importa a dureza
De suas medidas e contagens!
Isso não tira minha grandeza (...)
Sentimento só me dá vantagem!


Jogo seu parnasianismo no lixo!
Eu me engradeço, toda minha lira
Sem um verso, somente, contar.


Eu sou o encarnado, o infixo
Sou a literatura despida da ira
Dessa insanidade de metrar!










Amar tanto..

Você me gerou um geral encanto
Que o coração, fadado à letargia
Fez meu corpo, em  ode à alegria
Suprir de toda, inteira, cada canto.


E eu, rara cientista, que não sabia
Toda a pessoal entropia de amar
Preferia não saber toda fisiologia
Sabendo apenas o coração ritmar.


É que ensinaste o que a ciência
Não tinha ao menos consciência
Do que era viver em plenitude!


Agora em plena homeostasia,
Eu vivo em  paz, em  fantasia
De amar tanto, e em firmitude!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Cardioletargia!

Eu de repente senti um asco(...)
Estranho, eu, como poderia?!?
Sempre estive nesse casco
Dessa infinita cardioletargia(...)


E eu que sempre sobrevivi
Entre as páginas dos livros(...)
Hoje queria mais um bisturi
Que arrancasse esses risos!


Eu não vejo nenhuma graça
Nesse todo que você insiste
Em chamar, clamar, de amor!


Eu só vejo, de todo, desgraça
E uma alma, num limbo triste
Que só sabe conjugar a dor!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A boticária e o escritor

    Ela, uma boticária, ele um escritor. Ela guardava em sua caderneta, suja de reagentes coloridos, elixires e alcoolatos que curavam moléstias, sanavam dores e prolongavam a vida. Ele escrevia contos. Sua máquina datilográfica entoava um ritmo que ainda a encantava. Ela muito se inspirava nele, e sentia um profundo amor. Ele, perdia-se em seus contos. Era um homem de histórias.
    A botica ficava a muitos quarteirões daquele lar, e ela ia, todos os dias, em um cavalo forte e rápido. Cansava-se sempre, era magra e pouco se alimentava. Preferia usar seus tempo para preparar novas fórmulas. Passava quase o dia inteiro entre os potes de porcelana dourada e âmbar. Ele, em casa, sempre em frente à fatídica máquina de datilografar. Às vezes, um dia inteiro, e a folha permanecia em branco, ao contrário da caderneta dela, sempre com muitas anotações.
    Chegava sempre ao anoitecer. Sempre suspirava antes de chegar em casa. Seu profundo amor sempre fazia-lhe questionar coisas. Cuidava daquele homem com tanto zelo, com tanto amor, e tinha nítida impressão que aquela máquina sempre fora mais importante que ela. Chegava em casa sempre faminta de conversa e de comida, mas ele, como todo escritor, sempre quieto. Ela, como cuidadora, mantinha seu zelo.
     Com o tempo, suas indas e vindas à botica, começaram a cansar aquela cuidadora. Chegava o momento da inanição. Sua alma chegou a encolher, seu corpo curvou-se quando montada no cavalo. Mas muitas pessoas dependiam de seus cuidados. Um dia, em seu laboratório, ao preparar um unguento para curar uma ferida, deixou cair uma lágrima. Então rotulou-o de tristeza, levou para casa, e todas as noites, antes de dormir, começou a passar em seu peito, na altura de seu coração. 
    Cada dia mais o silêncio se instalava. A máquina datilográfica não mais ritmava, mais eram sucessivas batidas irritantes em sua cabeça que enfatizavam a hora do Adeus. 
    No dia que o unguento chegou ao fim, e que seu coração ainda doía, ela preparou o jantar, forçou-o a sentar na mesa, coisa que ele sempre se recusou, e começou a falar. De repente, um "eu não te amo mais", escapou pelos seus lábios, e não mais que de repente, uma lágrima escorreu pelos olhos dele. Ele levantou-se, abriu uma caixa de madeira, e tirou vários contos. Os contos falavam de dor, mas de como aquela boticária, como toda sua graciosidade, o cuidava. Mas ela estava decidida a partir. Não o amava mais. Seu peito doía, e sua impressão era querer arrancar seu mais nobre vital, seu coração. Ele a tomou nos braços. Guardou a velha máquina de datilografar no fundo de uma gaveta. No fundo da caixa de madeira onde guardava os contos, tirou uma chave, pegou-a pela mão, e levou num quarto que sempre ficara trancado. Era uma oficina de carpintaria. Ele olhou-a nos olhos, e disse que ela era sua escolhida. E a partir de agora, ele não mais seria um homem de histórias e contos, mais um homem de madeira de lei, que honraria sua presença, e mereceria tê-la como esposa.

Livrando-me de ti.

Eu queria vomitar meu coração
Lambuzar-me, e ensanguentada
Abdicar desse medonho condão
De viver a ti, maldito, entrelaçada!


Eu queria enfim, de ti, me livrar
E ter, enfim, minha vida, de volta
E toda deixar desgraça passar(...)
Livrando meu coração da revolta!


E por fim, não mais teria vísceras
Agonizando findas por todo lado
Nesse limbo maldito de te amar!


Teria uma vida, mesmo que ínfima
E um coração, um tanto bagunçado
Mas podendo, livre, enfim, respirar!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Anoréxica.

Eu tenho vontade de café 
De broa quente, de sonho!
Queria também um cafuné
Findando o jejum medonho.


Queria sair dessa inanição
É o asco de todo santo dia!
Queria reverter essa ação
Voltando à homeostasia(...)


Tenho vontade de degluir
Apenas alimentos, e só
Meu corpo, enfim suprir.


E dessa anorexia me livrar
Desatar esse embolo de nós
Que todo dia tenta me matar!

sábado, 20 de agosto de 2011

É claro...

É claro que me ponho a chorar
Frente toda essa sua ingratidão!
E ponho toda-me a decantar
Nessa doída rota abominação(...)


É claro que deixei anoitecer
Para que eu pudesse partir(...)
Vendo-lhe, eu ia convalescer
dessa doença de me reprimir!


Maldita, e ponho-me a chorar
Novamente nesse todo claro
Que não se cansa de repetir!


É essa mania idiota de amar!
E por fim, eu só me deparo
Com uma alma a desnutrir!

sábado, 13 de agosto de 2011

Fé de gente pequena

Tentou exilar-me de minh'alma
Sem que eu pudesse perceber(...)
Mas tolo, não sabia da calma
Da minha fé, para não padecer!


Em uma guerra, mais que dolorida
Eu vi sangue negro  por todo lado!
Mas por velhos anjos, fui acolhida
E todo seu mal foi carbonizado(...)


E naquele colo, orando a novena,
bem como fosse uma criança(...)
Eu chorava tanto, a soluçar!


Mas mostrou que forte e pequena
Me devolveu a paz, deu esperança
De, em minha vida, enfim recuperar!

domingo, 7 de agosto de 2011

Ode à estúpida!

De todas, minha maior culpa
É amar-te com os intestinos
Fazer de tudo uma desculpa
Abstendo-me dos instintos!

Meus olhos, então, te entreguei
Foi quando comecei a morrer(...)
Minh'alma começou a encolher.
Eu mesma, por fim, me vendei!

Estúpida, eu, menina, acreditei
Que poderia sinceramente amar
Mas me provaste é impossível!

Mas, ao fim, me decepcionei!
Como víceras verdadeiras utilizar
Para humanizar o não fatível?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Silêncio no leito.

Quando o vazio se instala
Nesse leito, ainda nosso
O fúnebre silêncio, mata!
Questiono: falar, eu posso?


Maldade tirar-me os verbos
O meu condão, a minha lira(...)
E sugar o meu único certo
transformando tudo em ira!


Injustiça, pois, arrancar-me
Toda essa minha inspiração
e amordaçar-me, para calar.


Não é corajoso de escutar-me!
É porque não tem coração(...)
Ou mesmo o condão de amar.

Um jardim ou um amor?

Eu queria belo jardim,
Daquele cheio de flores!
Pois não tenho amores(...)
Nessa antivida sem fim!


E pelo menos poder sentir
Suas cores, seiva e odores.
Sem mais espinhos pra ferir
Nessa terra seca de rancores.


Queria, só, sentar ao relento!
Sentir a solidão, em plenitude
E de puro orvalho, me saciar(...)

Não ser mais o ser sedento
Que acha tudo uma virtude,
E que a vida se resume a amar!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Minha libertação!

Hoje, meus versos são ocos
De minha lira, eu me liberto!
E não nascem mais brotos
Do que agora, é deserto(...)


Não preciso mais de ti
Livrei-me da necessidade
Com coragem, eu parti
Achei enfim a frugalidade!


Perdi todo meu condão
E aquela graciosidade
Que eu fingia vivenciar,


mas recuperei meu coração(...)
Que hoje bate na causalidade
E está enfim liberto de te amar!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Conto de Separação

       Ele pensou em ir embora. Ela havia chegado do trabalho. Quando o viu, sentiu a tristeza em seu olhar. Questionou-o o que acontecia, mas o silêncio, extremamente comum naquele casal, instalava-se cruelmente. Ela tomou um banho, pensou em um chá de capim-limão e beijou-o. Tomou-o contra seus fartos seios, como uma mãe toma seu menino no colo, e disse que o amava. Ele, como sempre, nada falava. Seu trabalho fora exautistivo, e ela precisava descansar a mente. Ela em geral, não falava sobre o trabalho. Sabia que ele não gostava de escutá-la. Naquele dia, pessoas haviam morrido em seus braços no Hospital. Ela estava abalada, ele brigava com ela sempre que algo assim era trazido pro chamado "lar". Então, ela achou que o chá lhe faria bem. Pegou as folhas no jardim, preparou-o. Colocou ainda uma pequenina dose de Vodka de Pera, que de fato, iria melhorar seu sono. Deu-lhe um beijo, e ele ainda deitou ao seu lado. Seria seu último colo. Ela o amava profundamente, e o cuidava. Seu preço, era a migalha de carinho, que em geral, vinha na forma daquele colo, com braços largos e fortes. 
        Ela, então, caiu em um profundo sono. Ele arrumou suas coisas e partiu, sem fazer barulho. Em seu sono ela, orava pelo paciente que havia perdido. Foram algumas poucas horas, e ela sabia que precisaria acordar e fazer o jantar. Mas quando abriu os olhos, sua cama estava vazia. Chamou seu nome algumas vezes, sem resposta.
       Seu coração começou a bater acelerado no peito como se ela tivesse tomado em sua veia um tanto de noradrenalina. E quanto mais o chamava, mais seus olhos enchiam de lágrimas, mais suas mãos ficavam frias. Ele não respondia. Ela o procurou pela casa, ele não estava lá. Não havia nenhum bilhete, recado, nada! Ela abriu o guarda-roupas e viu vazio. Uma lágrima escorreu sua face. Ela pegou o telefone, trêmula, e discou seu número. Ele não atendeu. Ele nunca mais atendeu. E sem motivos, sem explicações, ele definitivamente, se foi.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

à quem me possui.

Desperto, fatalmente, surpresa
E reparo seu olhar um sedento
Autodiagnostico-me tua presa
Em meio d'aquele afoitamento!

E tão forte meu seios pega
Que quase, pois, os arranca!
E tuas carnes em mim esfrega
Ritmando-se em minhas ancas!

Por fim, ao ver teu apetecer
Em teu suspiro tão profundo
Quando sobre mim repousas

Vendo teu gozo escorrer
Avalio, céus! No fundo,
Quem possui as cousas!?

Versos ao ladrão de meus olhos.

Você que fez o sacro furto
De meus olhos a essência,
faz-me um relatório curto
de sua sórdida providência!

Não se preocupas, de fato,
com minha convalescência!
Queria, era fazer o alcoolato
de minha mania de antivivência

e todo ele, num gole, beber
Mostrar-me que sou capaz
De, humana, também furtar(...)


E em teu colo adormecer
E enfim, poder repousar
Na humanidade de amar.

domingo, 24 de julho de 2011

Escutando seu coração

Eu, cientista de raríssimo rumo
Desencontrei-me no caminho
E tornei-me da reação insumo
De um sentimento de carinho.

Reação química desconhecida
Faz meu ocioso miócito ritmar
E meu coração, que antes batia
Para a paupabilidade eu avaliar.

Ao luar, recostada em teu peito
Escuto o viés que a fisiologia
Nunca soube realmente ensinar.

E tirar de toda ciência proveito
E, enfim,  viver toda a fantasia
De um ser humano, e lhe amar.

sábado, 23 de julho de 2011

Versos à um Italiano!

Encontro-me em sua taça!
Minha terra, e também sua,
Siciliana é a nossa raça(...)
Nossa amada, terna e pura!

Impossível não querer-me entregar
Aos gens tão absurdamente iguais
que faz-me quente, em você deitar
Embebida na melodia dos ancestrais(...)

Italianos, nós sabemos amar,
E beber, cantar, comer, e gozar!
O vinho tinto ao lado da cama!

E deitados, cansados, clamamos mais
E exatamente como nossos pais
Valida, de amantes, a nossa fama. 

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Estéril.

Eu, que fui tolida da maternidade
Feita crua  e rude feito um tamanco
Sofro desde a epigênese, num canto
Da maldosa formação à esterelidade.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Quando eu partir

Medo, não devo negar
Na verdade, foi pavor
Antes eu podia respirar
Hoje, é tudo é horror!

E foi assim que você fez
Sem nenhum escrúpulo!
Ser, um tanto esdrúxulo
Destruiu minha lucidez!

Mas pensa que vai vencer?
Eu, que lhe vejo adormecer
E ainda cuido-lhe, em cobrir(...)
 
Antes que perceba vou partir
E todo seu sangue vai escorrer
E em uma taça, vou me apetecer!

Para matar um grande amor.

Versos de revolta a Para viver um grande amor, de Vinicius de Moraes.

Para matar um grande amor, vos digo
É preciso perder o lirismo
E perder-se na esquina com outrem
Ou matá-lo com um comprimido.

Para matar um grande amor
É preciso desatenção
E deixar passar pelas mãos
O que deveria ter sido dito
É preciso uma cota de mal-humor
E sombracelhas preocupadas 
Para matar um grande amor.

Para matar um grande amor
É simples, não precisa esforço
É preciso apenas não se importar
Ir embora e não voltar
E não olhar, e não proteger, 
E não sorrir, e não amor.

Para matar um grande amor, 
meu amigo é preciso saber
iludir seu grande amor.
Pois deve-se saber inflar
Para depois esvaziar
A bexiga do grande amor.

Para matar é preciso ser de vários
Vários amigos, várias mulheres, 
Vários copos. E sempre priorizá-los.
É preciso ter um quê de descaso
E incomodar com as preferências.

Para matar um grande amor, 
É simples, vos digo
Comece esquecendo os elogios
E esqueça também os olhares
Esvazie as mãos quando juntos andarem.

Para matar um grande amor, importante
É mister ser infiel. E cruel.
Ser de vários e vários, 
se quiser matar um grande amor.

Para matar um grande amor
É preciso egoísmo, e ego-lirismo
É preciso mais e mais amor consigo
E dizer eu consigo
viver sem um grande amor.

Versos à meu Pai Boticário

Homenagem a meu amado pai, Farmacêutico Magistral.

Quando nossa era essa terra,
antes de jóias e metais brilhantes,
Separamos as ervas
Nossos unguentos, esverdeados,
Eram preparados em gral de pedra,
E curavam nossas moléstias.

Anos passaram-se,
tudo virou porcelana,
Pálida, esquálida.
O gral de pedra, guardado,
não pode mais ser usado,
tornou-se errado(...)
e agora vestindo um jaleco,
não mais com os pés na terra,
Preparava unguentos e comprimidos
De belos frascos rodeado
com seus detalhes dourados
Na bela botica branca, de porcelana.

Hoje, não existe mais o gral de pedra
E tão paramentados, por vezes esquecemos a arte(...)
Distanciamo-nos das folhas,
dos verdes unguentos
E da cura ao relento

E a alma que fora curandeiro e boticário,
hoje carrega o duro fardo de ser farmacêutico,
e por vezes esquecer da arte de curar por amor.

E por amor lembro-me de quando fomos 
curandeiros, e boticários.
Busco elixires de vida longa, éteres de felicidade
Comprimidos de plenitude e gotas de serenidade,
segundo a arte dos farmacêuticos.


Versos à Jamerson

Versos à quem me inspira, e a quem me tirou a vergonha de ser poeta. 

Deparei-me com um rapaz
Que descobriu meu contão.
Minha lira sai da abneganção
Mostrou-me, então, capaz.


Os versos ganham liberdade
Da cansada arca encefálica.
E perante a folha, esquálida,
Dançam plenos a felicidade!

Encontrei-me, rapaz d'oiro
Quase que em seu olhar
Sem nunca sua face ver

Fez meu cérebro redendoiro
E seus versos foram o inclinar
De minha lira, brotar, nascer!

domingo, 17 de julho de 2011

Versos à uma louca

Meretriz, não tens vergonha
De em seu ventre carregar
Fruto da mentira medonha
Que insiste me enfernizar?

Insiste na amenorréia
E pensa que acredito
Conheço a verborréria
De um crânio maldito!

Feto, do noturno ébrio,
Fruto do fétido adultério
E da sua mente insana(...)

Pensa, tenta, sua louca!
Volátil, você é tão pouca
E por fim, você sangra!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ode à dor.


O feixe de bombas, interneuronal
Que meus pensamentos carrega
É só dor! Meu caixão sepulcral
E minh'arca encefálica se degenera(...)

Minha massa cinzenta, maldita
só sabe computar as, sordidamente,
fibras dolorosas, que comumente
minha sanidade, facilmente, frita!

Subjetiva, pois necessária
Para meu karma eu acertar!
Poe-me em fulgaz acatisia.

Estabeleceu-se, arbitrária!
Pois-me na cama a rolar
eu, e minha santa agonia.

domingo, 3 de julho de 2011

Versos à um menino II

À um quase tudo, completo nada, Lucas C. Lisboa

Pensa que sua amarra é tão forte,
E acha que pode me fazer sofrer.
Continue brincando com a sorte
e verá sua lira, aos poucos, padecer(...)

Eu, na estante, coleciono vitórias,
Sou apadrinhada da Santa Morte!
E você, pirralho é só um recorte,
que fica chorando com memórias.

Num momento de espiritual elevação
Recordo-me da plantação da semente,
E como tudo cresceu. Então, acredite:

À você, miserável, resta, no limite
A minha oração, e no meu máximo
A minha luz, meu zelo, meu perdão!

sábado, 2 de julho de 2011

Versos à uma pimenta!

Busco, aflita e finda, em sua ardência
A serenidade de todas as minhas ânsias(...)
E então, pura e terna, em reticência
Desce-me queimando-me a garganta!

E vermelha, levando a branca semente, 
Põe-me sedenta, a sorrir e a lacrimejar
E de felicidade, trêmula, a avermelhar
Marca-se como minha eterna confidente(...)

Em quem deveria, eu, mais confiar(...)
Além de ti, minha amada pimenta
Que em tua acidez,  faz-me serena?

Acalenta-me, minha pequena caiena(...)
Escreveste em minh'alma a ementa
De toda paz que busquei, encontrar!

Antes de você.

Quando você chegou eu era só
Saciava-me com livros ancestrais(...)
Então chegou e fez o vil seu nó,
enrolou-se todos os meus vitais.

Meu coração, que apenas ritmava
Para de oxigênio meu cérebro suprir,
Perde tempo com dúvidas infindas
De como um ser normal deveria agir.

Pode até dizer-me o contrário
E dizer com sua rudez que não!
E usar de teu hábito arbitrário
Argumentando  pela sua razão(...)

Mas eu, como pura cientista
Digo, não! Digo-lhe meu rapaz:
Era eu, de amor poibicionista
Quando chegou, eu tinha paz.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Versos à um idiota!

Meu coração é um agregado infeliz
de miócitos estúpidos a acreditar
Que eu, singular neuronal meretriz
Mereceria um dia, nessa vida, amar!

E mesmo oferecendo meus dias
Preciosos pra ciência, a lhe dedicar
Joga-me fora, como quiquilharias
Estúpido! Como não pode me avaliar?

Não vê o quanto eu sou preciosa?
E quando vale todo meu saber?
Como pode, homem, me deixar partir?

Eu domino meus miócitos, gloriosa!
Eu prefiro para ciência prostituir-me e viver
E deixa-lhe, lhe ver sofrer, e, em ânsias, rir!

rEUmatismo

Eu, que passei tantos anos só
Enroscada na cama a chorar
Contra gens podres de minha vó
Do rematismo, do karma, a lutar(...)

Eu, e a santíssima auto-imunidade
Que sempre atacou a minha pessoa!
Importa-se agora um elemento terceiro
que minhas articulações ela não roa(...)

Um singelo anjo me cuida, com zelo
E reduz meu todo-íntegro fisiopático
A uma existência, que pode até amar !

Em minha alma, estampa seu selo
Faz-me ser, mesmo que reumático
Que pode de sua cama, levantar(....)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Meu podre vital.

Meu coração, esquálido e gélido
Como flocos de neve da Patagônia
Frio vil, vento (...) Locus infértil
E obtuso, de robustês antagônica.

Ora contrai rápido, ante-parando
Em angina, meus míócitos a gritar
Abarca em diástole, caio o pranto
A cada segundo, ameaça-me parar(...)

Ora preguiçoso, em insuficiência
Passa o tempo, finge-se de mole
E minhas veias é incapaz de ritmar

Coração estéril, em reticência
E meu vital, meu mais nobre
E sua podridão, impossibilita-me amar!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Versos à um anjo...

(Dedicados à André Sales)


Amo-lhe com devida calma(...)
A paz invade meu pensamento.
Ao nirvana elevo minh'alma
em pura lira e encantamento!

Vejo, ao longe, d'oiro arrozais,
perco-me em tanta felicidade!
Enfim, encontrara a fertilidade
entendo, então os elementais.

E de fogo e água, terra e ar,
Agudo e reto, pois-se obtuso!
Certificado, ao fim, decidido!

És meu anjo, delicado e astuto
Curou o coração, antes ferido
Devolveu-me a proeza de amar!