quinta-feira, 28 de julho de 2011

Conto de Separação

       Ele pensou em ir embora. Ela havia chegado do trabalho. Quando o viu, sentiu a tristeza em seu olhar. Questionou-o o que acontecia, mas o silêncio, extremamente comum naquele casal, instalava-se cruelmente. Ela tomou um banho, pensou em um chá de capim-limão e beijou-o. Tomou-o contra seus fartos seios, como uma mãe toma seu menino no colo, e disse que o amava. Ele, como sempre, nada falava. Seu trabalho fora exautistivo, e ela precisava descansar a mente. Ela em geral, não falava sobre o trabalho. Sabia que ele não gostava de escutá-la. Naquele dia, pessoas haviam morrido em seus braços no Hospital. Ela estava abalada, ele brigava com ela sempre que algo assim era trazido pro chamado "lar". Então, ela achou que o chá lhe faria bem. Pegou as folhas no jardim, preparou-o. Colocou ainda uma pequenina dose de Vodka de Pera, que de fato, iria melhorar seu sono. Deu-lhe um beijo, e ele ainda deitou ao seu lado. Seria seu último colo. Ela o amava profundamente, e o cuidava. Seu preço, era a migalha de carinho, que em geral, vinha na forma daquele colo, com braços largos e fortes. 
        Ela, então, caiu em um profundo sono. Ele arrumou suas coisas e partiu, sem fazer barulho. Em seu sono ela, orava pelo paciente que havia perdido. Foram algumas poucas horas, e ela sabia que precisaria acordar e fazer o jantar. Mas quando abriu os olhos, sua cama estava vazia. Chamou seu nome algumas vezes, sem resposta.
       Seu coração começou a bater acelerado no peito como se ela tivesse tomado em sua veia um tanto de noradrenalina. E quanto mais o chamava, mais seus olhos enchiam de lágrimas, mais suas mãos ficavam frias. Ele não respondia. Ela o procurou pela casa, ele não estava lá. Não havia nenhum bilhete, recado, nada! Ela abriu o guarda-roupas e viu vazio. Uma lágrima escorreu sua face. Ela pegou o telefone, trêmula, e discou seu número. Ele não atendeu. Ele nunca mais atendeu. E sem motivos, sem explicações, ele definitivamente, se foi.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

à quem me possui.

Desperto, fatalmente, surpresa
E reparo seu olhar um sedento
Autodiagnostico-me tua presa
Em meio d'aquele afoitamento!

E tão forte meu seios pega
Que quase, pois, os arranca!
E tuas carnes em mim esfrega
Ritmando-se em minhas ancas!

Por fim, ao ver teu apetecer
Em teu suspiro tão profundo
Quando sobre mim repousas

Vendo teu gozo escorrer
Avalio, céus! No fundo,
Quem possui as cousas!?

Versos ao ladrão de meus olhos.

Você que fez o sacro furto
De meus olhos a essência,
faz-me um relatório curto
de sua sórdida providência!

Não se preocupas, de fato,
com minha convalescência!
Queria, era fazer o alcoolato
de minha mania de antivivência

e todo ele, num gole, beber
Mostrar-me que sou capaz
De, humana, também furtar(...)


E em teu colo adormecer
E enfim, poder repousar
Na humanidade de amar.

domingo, 24 de julho de 2011

Escutando seu coração

Eu, cientista de raríssimo rumo
Desencontrei-me no caminho
E tornei-me da reação insumo
De um sentimento de carinho.

Reação química desconhecida
Faz meu ocioso miócito ritmar
E meu coração, que antes batia
Para a paupabilidade eu avaliar.

Ao luar, recostada em teu peito
Escuto o viés que a fisiologia
Nunca soube realmente ensinar.

E tirar de toda ciência proveito
E, enfim,  viver toda a fantasia
De um ser humano, e lhe amar.

sábado, 23 de julho de 2011

Versos à um Italiano!

Encontro-me em sua taça!
Minha terra, e também sua,
Siciliana é a nossa raça(...)
Nossa amada, terna e pura!

Impossível não querer-me entregar
Aos gens tão absurdamente iguais
que faz-me quente, em você deitar
Embebida na melodia dos ancestrais(...)

Italianos, nós sabemos amar,
E beber, cantar, comer, e gozar!
O vinho tinto ao lado da cama!

E deitados, cansados, clamamos mais
E exatamente como nossos pais
Valida, de amantes, a nossa fama. 

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Estéril.

Eu, que fui tolida da maternidade
Feita crua  e rude feito um tamanco
Sofro desde a epigênese, num canto
Da maldosa formação à esterelidade.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Quando eu partir

Medo, não devo negar
Na verdade, foi pavor
Antes eu podia respirar
Hoje, é tudo é horror!

E foi assim que você fez
Sem nenhum escrúpulo!
Ser, um tanto esdrúxulo
Destruiu minha lucidez!

Mas pensa que vai vencer?
Eu, que lhe vejo adormecer
E ainda cuido-lhe, em cobrir(...)
 
Antes que perceba vou partir
E todo seu sangue vai escorrer
E em uma taça, vou me apetecer!

Para matar um grande amor.

Versos de revolta a Para viver um grande amor, de Vinicius de Moraes.

Para matar um grande amor, vos digo
É preciso perder o lirismo
E perder-se na esquina com outrem
Ou matá-lo com um comprimido.

Para matar um grande amor
É preciso desatenção
E deixar passar pelas mãos
O que deveria ter sido dito
É preciso uma cota de mal-humor
E sombracelhas preocupadas 
Para matar um grande amor.

Para matar um grande amor
É simples, não precisa esforço
É preciso apenas não se importar
Ir embora e não voltar
E não olhar, e não proteger, 
E não sorrir, e não amor.

Para matar um grande amor, 
meu amigo é preciso saber
iludir seu grande amor.
Pois deve-se saber inflar
Para depois esvaziar
A bexiga do grande amor.

Para matar é preciso ser de vários
Vários amigos, várias mulheres, 
Vários copos. E sempre priorizá-los.
É preciso ter um quê de descaso
E incomodar com as preferências.

Para matar um grande amor, 
É simples, vos digo
Comece esquecendo os elogios
E esqueça também os olhares
Esvazie as mãos quando juntos andarem.

Para matar um grande amor, importante
É mister ser infiel. E cruel.
Ser de vários e vários, 
se quiser matar um grande amor.

Para matar um grande amor
É preciso egoísmo, e ego-lirismo
É preciso mais e mais amor consigo
E dizer eu consigo
viver sem um grande amor.

Versos à meu Pai Boticário

Homenagem a meu amado pai, Farmacêutico Magistral.

Quando nossa era essa terra,
antes de jóias e metais brilhantes,
Separamos as ervas
Nossos unguentos, esverdeados,
Eram preparados em gral de pedra,
E curavam nossas moléstias.

Anos passaram-se,
tudo virou porcelana,
Pálida, esquálida.
O gral de pedra, guardado,
não pode mais ser usado,
tornou-se errado(...)
e agora vestindo um jaleco,
não mais com os pés na terra,
Preparava unguentos e comprimidos
De belos frascos rodeado
com seus detalhes dourados
Na bela botica branca, de porcelana.

Hoje, não existe mais o gral de pedra
E tão paramentados, por vezes esquecemos a arte(...)
Distanciamo-nos das folhas,
dos verdes unguentos
E da cura ao relento

E a alma que fora curandeiro e boticário,
hoje carrega o duro fardo de ser farmacêutico,
e por vezes esquecer da arte de curar por amor.

E por amor lembro-me de quando fomos 
curandeiros, e boticários.
Busco elixires de vida longa, éteres de felicidade
Comprimidos de plenitude e gotas de serenidade,
segundo a arte dos farmacêuticos.


Versos à Jamerson

Versos à quem me inspira, e a quem me tirou a vergonha de ser poeta. 

Deparei-me com um rapaz
Que descobriu meu contão.
Minha lira sai da abneganção
Mostrou-me, então, capaz.


Os versos ganham liberdade
Da cansada arca encefálica.
E perante a folha, esquálida,
Dançam plenos a felicidade!

Encontrei-me, rapaz d'oiro
Quase que em seu olhar
Sem nunca sua face ver

Fez meu cérebro redendoiro
E seus versos foram o inclinar
De minha lira, brotar, nascer!

domingo, 17 de julho de 2011

Versos à uma louca

Meretriz, não tens vergonha
De em seu ventre carregar
Fruto da mentira medonha
Que insiste me enfernizar?

Insiste na amenorréia
E pensa que acredito
Conheço a verborréria
De um crânio maldito!

Feto, do noturno ébrio,
Fruto do fétido adultério
E da sua mente insana(...)

Pensa, tenta, sua louca!
Volátil, você é tão pouca
E por fim, você sangra!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ode à dor.


O feixe de bombas, interneuronal
Que meus pensamentos carrega
É só dor! Meu caixão sepulcral
E minh'arca encefálica se degenera(...)

Minha massa cinzenta, maldita
só sabe computar as, sordidamente,
fibras dolorosas, que comumente
minha sanidade, facilmente, frita!

Subjetiva, pois necessária
Para meu karma eu acertar!
Poe-me em fulgaz acatisia.

Estabeleceu-se, arbitrária!
Pois-me na cama a rolar
eu, e minha santa agonia.

domingo, 3 de julho de 2011

Versos à um menino II

À um quase tudo, completo nada, Lucas C. Lisboa

Pensa que sua amarra é tão forte,
E acha que pode me fazer sofrer.
Continue brincando com a sorte
e verá sua lira, aos poucos, padecer(...)

Eu, na estante, coleciono vitórias,
Sou apadrinhada da Santa Morte!
E você, pirralho é só um recorte,
que fica chorando com memórias.

Num momento de espiritual elevação
Recordo-me da plantação da semente,
E como tudo cresceu. Então, acredite:

À você, miserável, resta, no limite
A minha oração, e no meu máximo
A minha luz, meu zelo, meu perdão!

sábado, 2 de julho de 2011

Versos à uma pimenta!

Busco, aflita e finda, em sua ardência
A serenidade de todas as minhas ânsias(...)
E então, pura e terna, em reticência
Desce-me queimando-me a garganta!

E vermelha, levando a branca semente, 
Põe-me sedenta, a sorrir e a lacrimejar
E de felicidade, trêmula, a avermelhar
Marca-se como minha eterna confidente(...)

Em quem deveria, eu, mais confiar(...)
Além de ti, minha amada pimenta
Que em tua acidez,  faz-me serena?

Acalenta-me, minha pequena caiena(...)
Escreveste em minh'alma a ementa
De toda paz que busquei, encontrar!

Antes de você.

Quando você chegou eu era só
Saciava-me com livros ancestrais(...)
Então chegou e fez o vil seu nó,
enrolou-se todos os meus vitais.

Meu coração, que apenas ritmava
Para de oxigênio meu cérebro suprir,
Perde tempo com dúvidas infindas
De como um ser normal deveria agir.

Pode até dizer-me o contrário
E dizer com sua rudez que não!
E usar de teu hábito arbitrário
Argumentando  pela sua razão(...)

Mas eu, como pura cientista
Digo, não! Digo-lhe meu rapaz:
Era eu, de amor poibicionista
Quando chegou, eu tinha paz.