terça-feira, 3 de maio de 2011

Moribunda lutadora

Pós-cirúrgia intestinal.

Teve um momento em minha vida
Que eu tive que fazer das tripas coração,
E amá-las!
E do coração, fiz o cerébro,
Pra acreditar!

E insana, desacordada,
Mostrei meu avesso,
Minhas entranhas como nunca houvera feito.

Me remexeram, picotaram
havia sangue sujo por todo lado
Eu vi a morte por dentro dos olhos fechados.

E ao acordar, não sabia se tinha morrido
cristais de gelo riam em minhas artérias
sede, fome, instinto, já não existiam,
E pensei: só abri meus olhos de miséria

Mas a endorfina, ah, a endorfina,
me fez sentir o coração bater,
e mesmo depois de exposta fétida
eu poderia sobreviver

Alguns germes malditos  me atacaram
Geraram frio, faziam-me suar
mas eu ainda não haviam tirado
o condão de acreditar
a gota aliviava a dor
e a moribunda só conseguia lutar.

E da luta, fez-se pranto
E do pranto fez-se esperança
E da esperança, mais força
e da força, a vitória.

Hoje, gentilmente, recosto na janela
vejo as pessoas passarem com pressa.
Hoje eu leio Vinícius de Moraes no meio da tarde.
Hoje eu amo, sem ter certeza, nem piedade
Porque eu consegui um novo começo
E Porque nunca se sabe,
quando será preciso mostrar denovo seu avesso.


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