quarta-feira, 25 de maio de 2011

Prefiro assim. (Versos à André Sales)

Por você, ponho-me nua
Com todas minhas pinturas
Carrego flores ao ventre
Rasgado no sol poente.

E sem vergonha, me mostro
Já faz tempos que sou sua.
Nossos corpos já  se enrolam
Nos tantos meses sem lua

Não ligo se não tem luz,
E se prefere o vazio 
E a penumbra sem lumiar

Sigo a luz da vela, pois
mesmo na noite infinita
prefiro, sempre lhe amar.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Séptica!

Germe vil em sangue venoso
Arrasta em minhas entranhas
Proteína chama o complemento
Opsonizando em contentamento

Séptica e cansada, ardendo
Calafrio que abala e derrete
E um radical, livre se apetece
Cada célula, sedento comendo

Infecção, e das malditas!
Falharam meus neutrófilos
Como se nunca tivesse timo...

Células imunes fritas
Agora um todo acidófilo
E morta, eu não rimo!

domingo, 22 de maio de 2011

Freud explica....

Às vezes angustiada, penso
Que preciso de uma fila de dez
Pra meu ventre não ficar tenso
E eu gaste meus contos de réis

Penso então, é uma patologia!
Que em minha vulva reside insana
Deveria procurar um analista
Para aliviar minhas entranhas?

Mas o alívio, ah, o alívio
Vem com o gozo em pranto
Contrai o ventre, dói! Martírio!
E me faz querer mais um tanto

Analista? Pra que serviria?
Só me servem homens viris
Que me consomem todo dia
Na necessidade que pede bis!

Dia de minha morte.

Verde e foco, anestesiada
Vejo todos os instrumentos
Por tantas agulhas picada
Para cessar os batimentos

E então, podia ser rasgada
Esquartejada, tanto sangue
Não adianta ser relutante
E a morte, só gargalhada

Vejo-a, ela tanto ri de mim
Eu, que outrora fora forte
Hoje em um conjunto podre

Entrego-me no dia de hoje
Fui vencida pela Santa Morte
Embebida em cor de carmim!

sábado, 14 de maio de 2011

Epidemiologia

Esperança de vida ao nascer
Exposição de queda ao correr
Possibilidade de dor ao amar
Recorrência de tentar e tentar

domingo, 8 de maio de 2011

Tentativas.

Fim antes do começo
Recomeço e apetrecho
Enfim, novo desfecho
Ao fim, outro tropeço.

sábado, 7 de maio de 2011

Rê, volta!

Os rapazes que amei
E que me fizeram sofrer
Eu simplesmente deixei
Sem que pudessem perceber

Então, falavam: Rê, volta!
Mas o furação levantara tudo
Era muito mais que revolta
Era Renata e seu ângulo obsuto

Quando te ponho a reboque
É raro que um dia retorne
Talvez pra alguns beijinhos

E te faz sentir importante
Numa idiota, vil e redundante
Revolta de sofrer baixinho.

Versos à Lucia Brigida

Eu, que fui salva do forcipe
E forcei minha mãe ao leito
Eu rachei seu bico do peito
Recostada sobre seu tórax

Eu, que tomei-lhe tantas horas
Pequena ao berço,como chorava!
E mamãe balançava assustada
Só lhe remetia a passiflora!

Quando eu gritava e gemia
Mamãe agoniada, me sacudia
Num embalo ágil, que crescia
Alívio, Endorfina, hioscina!

E sempre foi desse jeito
O calvário para maternidade
À filha, a santa serenidade
Estabelece seu conceito

Dar a luz, na luz da vida
E ser vida, da  vida ser
É mais, é ser acolhida
Para maternidade ela viver.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Insuficicência cardíaca II

Algo da velha ciência
Ou da nova terapêutica
Que solucione a seca
E cansada insuficiência?

E mole, cansado, bate
Retardada, actina
Contrapõe a miosina
Tanto quanto tarde.

Maldito miócito
Fadado ao ócio
Finge-se  roto,

E ao fim torto
Nega-se a amar
Por não ritmar.

Neurofadiga

Eu, que no crânio carrego a massa
Enchumbada, enbairreirada-encefálica
Feixe luminoso, que nervoso, não pára
Víceras pensantes e ensanguentadas.

Feixe vil, nojento, entrelaçado
Cansa minha singelíssima existência
Cansa cada célula em sua essência
Em seu código gênico putrefato.

E porque, maldição! Questiono
Vender minha inteira vida
A essa madita insana corrida
De trocar pensamento pelo sono

Mas bibliotecas cabem em meu cérebro
Cidades, castelos, sacerdotes e meretrizes
Hoje sofro presa enovelada em minhas raizes
E nos meandros do meu estúpido ego.

Duque de Caxias, RJ 02/05/2011. 
O dia que um urubu pousou em minha sorte.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Moribunda lutadora

Pós-cirúrgia intestinal.

Teve um momento em minha vida
Que eu tive que fazer das tripas coração,
E amá-las!
E do coração, fiz o cerébro,
Pra acreditar!

E insana, desacordada,
Mostrei meu avesso,
Minhas entranhas como nunca houvera feito.

Me remexeram, picotaram
havia sangue sujo por todo lado
Eu vi a morte por dentro dos olhos fechados.

E ao acordar, não sabia se tinha morrido
cristais de gelo riam em minhas artérias
sede, fome, instinto, já não existiam,
E pensei: só abri meus olhos de miséria

Mas a endorfina, ah, a endorfina,
me fez sentir o coração bater,
e mesmo depois de exposta fétida
eu poderia sobreviver

Alguns germes malditos  me atacaram
Geraram frio, faziam-me suar
mas eu ainda não haviam tirado
o condão de acreditar
a gota aliviava a dor
e a moribunda só conseguia lutar.

E da luta, fez-se pranto
E do pranto fez-se esperança
E da esperança, mais força
e da força, a vitória.

Hoje, gentilmente, recosto na janela
vejo as pessoas passarem com pressa.
Hoje eu leio Vinícius de Moraes no meio da tarde.
Hoje eu amo, sem ter certeza, nem piedade
Porque eu consegui um novo começo
E Porque nunca se sabe,
quando será preciso mostrar denovo seu avesso.


Amo com meus intestinos.

Amo com o intestino
Instinto dum latino
Bruscamente extinto
Coifou o adulterino


O último que sobrava
Nada de vida restava
Um saco mole chorava
Fim da que encantava


Amar os meus, sem essenciais
Nada me resta, órgãos vitais
Nada posso oferecer, mortais
Frequentarei mais funeirais.

Renata Arnoldi.
8 de março de 2011

Casa em frente a estação do trem.
Duque de Caxias, Rio de Janeiro

Insuficiência cardíaca


Secando artérias e vias
Bate roto, mole, em dia
Saco vazio em minh'alma
Contrai com devida calma.

De apanhar

Olhar de espanto 
Viro, me assanho
Desfere um tanto
Escorre o pranto
Espanto, encanto

Cientista sem lira

Escrita dura e seca 
Referente, irritante
Rude, agoniante

Perdi a poesia
Hoje sou só ciência.
Só cito ou sou citada
E que situação;
Somente eu,
Em questão, 
Que deixei de escrever versos
E me vendi a ciência
Ciente que pra sempre
Serei eternamente
Seca mas certa.

Ânsia do vencido

(Madrugada deprezada)

A ânisa que sobe dos intestinos
Veloz, fulgaz e esanguentada
Termina em minha boca escancarada
Externiza meus próprios instintos.

É hora da desgraça, dos vencidos
das víceras podres, rotos tecidos.
Olho-me a face e vejo esquartejada
e de joelhos, resta-me estar inclinada

É hora. A ânsia sobe minha garganta
queria ter todas as víceras enoveladas
e quero arranca-las, para longe de mim...

Entre anjos sombrios, a morte santa
prefiro estar só a ser desprezada
e morrer em sangue vermelho carmim!