terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Para matar um grande amor (II)

Versos de revolta (II) a Para viver um grande amor, de Vinicius de Moraes.


Para matar um grande amor, estou certa
Convém perder a hora do elogio
E fazer muito rodopio
Para evitar o grande amor(...)


Deve-se esquecer a hora do sono
Para não abraçar o grande amor!
E esquecer-se no jogo de cartas,
Ou em qualquer outro jogo
Que deixe dormir o acolhedor(...)


Para matar um grande amor, vos digo
É conveniente usar um comprimido
E uma talagada de qualquer aditivo
Que vá despistar o grande amor
E usar-se do mal hábito
De culpar o alcoolato
Pelo excesso de calor(...)


Para matar um grande amor é infalível
Esquecer das vitais necessidades
Esquecer dos olhares e gentilezas
Das grandezas e das miudezas
E do café-da-manhã altamente removível
Do cotidiano do grande amor(...)
E esquecer das grandes datas
Do cantarolar e das serenatas
Que deveriam ser feitas pro grande amor!


Para matar seu grande amor
Convém ser esquecer-se do para sempre
E sempre escolher outros amores
Outros colos, outras casas, outros clamores
tão rotineiros na vida de um grande amor.


Convém esquecer-se do dia que se apaixonaram,
Para evitar relembrar coisas do grande amor!
E deixar no fundo da mente
Toda beleza do que foi reluzente
Mas que hoje é tão indiferente
Não causa arrepio, não é alimentador(...)


Para matar um grande amor, vos indico
Esqueça-se de tudo como doença
Encha-se de todo seu egoísmo
E mate o que não te traz recompensa
E viva, intensamente amor-próprio
Pois você finalmente ganhou o consórcio
E conseguir matar esse grande-quase-amor!

Nenhum comentário:

Postar um comentário